quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Cotidiano (ou Mariana e Pedro)

Mariana vivia sua mocidade tranqüila como toda garota deveria viver.
Boa família, de boas posses, bons colégios,
bons amigos, uma vida confortável, feliz.
Um dia Mariana conheceu Pedro.
Pedro também vivia sua mocidade tranqüila, boa família,
de boas posses, tudo igual em peso e medida
a se comparar com a vida de Mariana.
Então logo começaram a flertar, sair, namorar, noivar e passo seguinte casar.
E assim foi.
Mariana se formou no normal, como era de costume das moças de boa família e foi dar aulas.
Fazer carreira como sua mãe.
Pedro se formou em economia, prestou concurso e foi trabalhar no banco do Brasil.
Fazer carreira, como seu pai.
Assim, logo puderam casar. Dos pais ganharam a casa, de frente ampla e com garagem, na Vila Mariana.
Era confortável, três quartos e dois banheiros, sala de jantar e de visita,
copa cozinha azulejadas de branco e nos fundos a edícula
onde ficava o quarto da empregada e a lavanderia.
Recém-casados já possuíam geladeira e TV. Coisa rara em jovens casais naquele tempo.
Mas a sorte bafejava benesses para Mariana e Pedro.
Viviam felizes e vieram os filhos – quatro. Dois meninos e duas meninas.
Mariana então deixou a escola seus alunos e passou a viver para sua família,
como sua mãe, sua avó e sua bisavó haviam feito.
Pedro fez carreira no banco, e vivia para prover sua família,
como seu pai, seu avô e seu bisavô haviam feito.
E assim foram passando aniversários, páscoas, natais, carnavais, anos novos, sempre velhos.
E a vida seguia feliz.
As crianças cresciam, Mariana emudecia, Pedro não mais sorria, mas eram uma família feliz.
Pois tinham agora dois carros, TV colorida, uma casa maior e os filhos mais velhos imagine estudavam no Mackenzie.
E tudo era exatamente como deveria ser.
Uma família feliz como haviam sido felizes seus pais, avós e bisavós.
As crianças se casaram e agora havia netos.
Venderam a casa a foram para um lindo apartamento em frente ao Ibirapuera vista maravilhosa.
Ali viviam Mariana e Pedro, agora mal se falavam, mal se tocavam, mas eram um casal feliz.
Um dia Mariana levantou, passou as mãos pelos cabelos grisalhos e sem vida, observou as rugas em seus olhos, seus lábios pendiam caídos em direção ao chão numa expressão seca, como sua alma.
Mariana saiu.
E ao contrario de sua mãe, avó e bisavó, ela não mais voltou.
Enquanto Pedro se masturbava no banheiro,
como fizeram seu pai, avô e bisavô.

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