Resgatei este texto de uns 20 anos atrás, perdido nos arquivos do meu notebook, onde compartilho uma jornada de música, saudade e até amor platônico que (ainda) vive no coração. Vem comigo nessa viagem ao passado.
Hoje acordei de banzo. Estranhando o termo? Banzo é uma nostalgia mortal, que fere a alma tão profundamente que parece que vamos morrer, e às vezes isso acaba por acontecer.
Mas o meu banzo é mais ameno, chega a ser suave, melancólico talvez, ainda que cause dor. Mas o amor é assim, dor de amor é assim, banzo de amor também.
Difícil falar do amor que sentimos por alguém que já se foi e sequer soube que você existiu. Sim, de quem já se foi, você leu direitinho.
Sabe, existem pessoas que não morrem na vida da gente, e ele é uma delas, assim como o Senna, o Harrison, o Lennon, a Jackie, a Marilyn, o Gardel e tantos outros, dependendo do gosto de cada um.
Hoje acordei tarde, perdi a hora e, ao ligar o rádio — incrível — o rádio estava fora da estação usual. Acordei ao som das músicas às quais ele tão maravilhosamente deu vida: Let Me Try Again, You Are the Sunshine of My Life, I've Got You Under My Skin. Ficaria ali deitada ouvindo suas músicas por horas, não fosse a programação da rádio ter outras coisas para falar, outras músicas para tocar.
Vou te falar do meu banzo, quem sabe assim eu consiga fazer parar estas gotinhas salgadas que meus olhos teimam em produzir.
Ele me encanta, é assim desde os meus 14 anos. Eu queria ser a Mia Farrow. Uau! Na minha modesta opinião, ela o encontrou na melhor fase: madurão... uau de novo.
Eu estive lá no Maracanã, ouvi o seu canto sessentão. Falaram tanta bobagem: que ele não cantava mais, que iria ser playback. E foi tão lindo, estupendo, a voz mais encantadora que já ouvi. Não vi muito, estava longe naquele estádio imenso; aquele pontinho no centro do campo era o meu maior ídolo. Mas, naquele instante, ele era meu, somente meu — para os meus ouvidos e sentimentos, para o meu coração, que batia tão forte, querendo sair pela boca, correr lá, entrar dentro do coração dele e ficar eternizado em alguma canção.
Naquele dia, todas as canções cantadas foram para mim. Isso é o que há de mais especial nele: cantar como se cantasse individualmente para quem o escuta.
Uma amiga me mandou um e-mail dia desses com um trecho de uma música, uma foto. Abro sempre, escuto, olho e amo, amo e amo.
Hoje, ao acordar com as músicas dele, fiquei pensando que algumas pessoas deveriam ser eternas, não deveriam partir jamais. Na verdade, acho que não partem, se ficam morando assim na alma da gente, emocionando, encantando, vivendo dentro de nossos corações.
Agora coloquei um CD, ouço minha favorita: Fly Me to the Moon. Ah, agora toca Old Man River — não sei se o título é esse, mas que importa?
E assim, nesse meu banzo nostálgico, resolvi viver este dia. Não vou trabalhar, não atenderei telefones. Ficarei em casa, eu e ele, ele e eu. Por que tudo isso? Talvez porque, há já uns trinta e poucos anos, ele viva em meu coração. Acho que é amor, ainda que tenha sido platônico. Porém, tenho certeza de que, na próxima vez que passarmos por aqui, a história será outra: ... because night and day you are the one, only you beneath the moon or under the sun, whether near to me or far, it's no matter darling where you are, I think of you day and night...
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