terça-feira, 24 de setembro de 2024

Reabrindo as portas "Entre Páginas e Pixels"

Depois de um tempo afastada, resolvi reabrir as portas deste espaço que, por algum tempo, foi meu cantinho de reflexões e escritos. O blog Viver e Ser Feliz - Just It está de volta! Aqui, vou compartilhar crônicas, reflexões e momentos do meu cotidiano. Espero que minhas palavras encontrem vocês com o mesmo carinho e entusiasmo com que foram escritas. Vamos juntos, mais uma vez, redescobrir a alegria nas pequenas coisas da vida.

"Entre Páginas e Pixels" por Elaine Brunialti

Preciso terminar os livros que comecei a ler. Todos eles estão parados na memória do meu e-reader. Não gosto de ler no Kindle; é extremamente insípido, incolor, inodoro, inaudível — só não é invisível, embora às vezes pareça.

Chamam de livro, mas para mim é apenas uma leitura eletrônica, nem sei se esse termo existe. Livro, para mim, é papel: capa dura ou mole, edição de luxo ou econômica.

Gosto de folhear as páginas, do cheiro do livro, seja ele novo, cheirando a tinta fresca, ou velho, com cheiro de guardado. Livro é tato, visão, olfato e audição. Você toca, lê, sente o cheiro e ouve o farfalhar das folhas. Pode até ser paladar, se o livro lhe trouxer, por algum motivo, água na boca.

Você coloca o marcador de páginas ou, naquela página especial, pode até dobrar uma orelha, ou quem sabe marcar a borda com um marca-texto lilás. Você pode chorar e deixar uma marca do seu sentimento na folha, colocar uma flor ou um papel de bala entre as páginas e ali esquecê-los, até que um dia, ao reler, encontre um pouco da sua história dentro da história do livro.

Sem falar na gramatura do papel; gosto de gramaturas mais pesadas, gosto de textura. Dá para sentir a diferença ao folhear uma apostila de papel sulfite 75 gramas por metro quadrado, ou um livro impresso em papel pólen, com sua cor amarelada e toque rústico, eu diria nobre.

Aquele livro que você mais gosta, que relê sempre que pode, sabendo até que, na página 58, é onde a protagonista encontra seu amor ou sua rival pela primeira vez. E, nos romances, você fecha os olhos, leva o livro junto ao peito e sente o peso das folhas como uma carícia. Quando você se aborrece com o desenrolar da história, pode fechá-lo com raiva e olhar para ele de lado. Se for de terror, pode guardá-lo debaixo de todos os outros livros, com medo de que o vilão ou o monstro escapem durante a noite.

Mas, por falta de espaço, ou para me modernizar, comprei meu leitor eletrônico, e os livros vão ficando lá, guardados sem ocupar espaço, sem pó nem ácaros, sem flores ou papéis de bombons. Sem aqueles salva-páginas de fitinha de cetim desbotado, ou o marcador-brinde da livraria com um novo lançamento, ou um feito por você — o que fiz era de acetato, pintado com mandalas de verniz vitral, e está perdido em algum livro antigo. Qualquer dia desses o encontro, ao buscar um livro para reler, para matar a saudade, não só da história que ele conta, mas de todos os estímulos que despertam os sentidos.

Enquanto isso, vou carregar meu e-reader, tadinho, desmaiou por falta de bateria, enquanto eu recomeço a ler Noites Brancas — impresso —, emanando tinta e me permitindo ler a última linha do último parágrafo, num folhear rápido, buscando desvendar o destino de Nástienka."

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